9 de agosto de 2012

Da infância

Era a minha altura. Um livro em cima da cabeça marcava o lugar que um lápis semestralmente riscava na parede da cozinha. A única sabedoria dos ossos, crescerem como a teia sólida de um propósito e a anatomia mais transparente. Centímetro a centímetro espigava o corpo imaginário, essa contabilidade que era assim, íntima, pictórica, como uma cena burguesa. Traço a traço a parede da cozinha tornou-se rupestre, a infância uma ternura assustadora. Esta era a minha altura.
Agora sou tão mais alto e mais pequeno.

Pedro Mexia

1 comentário:

Maria disse...

Sabes Pequenina? Quando era menina, também havia marcas da altura.
Tínhamos 3 réguas de madeira, pregadas na parede, com as marcas de crescimento, minha, de meu irmão e minha irmã. O meu pai media da mesma forma, com um livro, fazia um risco e punha altura e data, em cada um.
Aos 15 anos parei de crescer. A minha irmã ultrapassou-me, o meu irmão foi sempre maior.
Tenho pena de não ter guardado essa régua.
Beijinhos minha querida.
Maria