11 de julho de 2011

Esta é a história de...

Sinto que este vai ser um dia diferente. Ainda meio-ensonada reparo na beleza da manhã. Um Sol resplandecente a iluminar o céu azul característico algarvio. Faltam vinte minutos para as dez quando me dirijo para o meu destino.

A passo apressado vou admirando tudo o que me rodeia:

As rosas brancas acompanhadas pelas margaridas nos canteiros coloridos das sacadas.

A "casa-palácio" ao estilo Belle Époque que contorna a esquina de forma sublime.

Até os próprios gatos e cães que por ali passam eu me dedico a apreciar.

Entre rimas e teorias filosóficas que começam a ser criadas na minha cabeça, reparo que cheguei ao meu destino. Este destino reside numa moradia cor-de-rosa que venceria todas as outras da sua rua num concurso de estética. De Estética... Mas o que será o belo afinal? O que será a arte? Haverá arte sem beleza?

Reparo na porta alta e antiga, feita de ferro trabalhado e madeira tratada, adornada com um admirável batente-mão onde os pormenores deveriam ser analisados com atenção.

Truz-Truz-Truz

A porta foi aberta por alguém que eu não esperava. Um senhor idoso, magro, fumando o seu cigarro. Está vestido de uma forma peculiar: Uma camisa branca acompanhada por um fato bege quase cerimonial, terminando nuns pretos e brilhantes sapatos.

«Senta-te ali que a professora já vem!» - Disse-me indicando um sofá numa sala à esquerda.

Não deixei de reparar na casa. Chamar-lhe-ia uma vivenda ou moradia do início do século XX com altas paredes e um longo corredor ao centro. Toda a vivenda era iluminada por uma janela localizada no final do corredor que dava para um pátio interior.

Entrei na sala que me foi indicada. Logo entendi que ali residia a alma de toda a casa. Aqui estava com um ar já cansado mas imponente o motivo porque estava naquele sítio tão acolhedor.

O piano. De marca Rönisch, cor escura, adornado com flores esculpidas na madeira.

Sinceramente não sei quanto tempo esperei pela professora, dado estar tão absorvida por aquela mágica atmosfera. Em pequenos passos com o apoio de uma bengala chegou a senhora dona Maria José, de 93 anos, pedindo imensas desculpas pelo tempo que me fez esperar.

Senta-se numa cadeira ao lado do piano e dá a sua aula com um Amor que transborda do seu pequeno corpo e que ninguém consegue ficar indiferente. É impressionante como os seus olhos brilham a ensinar-me a posição das mãos ou a explicar quantos sustenidos tem uma Escala em Sol.

É assim, com este Amor interminável à Música e à Vida que me ensina as mais variadas peças e composições.

"Esta é a história de uma mulher que o tempo só encolheu em tamanho, porque por dentro nunca deixou de crescer."

Estrela d'Alva