21 de março de 2012

Da primavera


Quando vier a primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.

Se soubesse que amanhã morria
E a primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

Alberto Caeiro, "[Quando vier a primavera]"

1 comentário:

Maria disse...

Querida Pequenina:
Lindo o Poema de Alberto Caeiro.
Mas tu, és a minha Primavera.
Há pouco, o meu marido estava a servir-se do Mail e tinha cá gente. Dei por tu ligares, mas só consegui um minutinho para te enviar o Mail.
As visitas saíram e agora, tenho de arrumar a bagunça que deixaram.
Beijinhos e parabéns pelo lindo poste.
Beijinho
Maria